2 de setembro de 2010

A supremacia do "querer ser"

Local: um ônibus. Uma pessoa: garota com celular. Um fato: música em alto volume.

Então parei pra pensar: por que isso?

Creio que o homem contemporâneo venha sendo envolvido na supremacia do “querer ser”. Hoje, mais importa (apesar da questão da importância ser contraditória) que outros saibam ou pensem algo de você. Atreveria-me a dizer até que não é um fenômeno atual, já que Platão dizia que era melhor parecer do que ser. Vai ver que seja isso: a sociedade ocidental, cunhada no modelo da sociedade Clássica, não poderia deixar de refletir alguns aspectos da mais antiga.

No caso dos celulares sem fone de ouvido, importa muito mais passar a mensagem “oi, tenho um celular e olha, conheço aquela música nova” do que realmente apreciar uma canção. Ainda mais dentro de um ônibus, onde os barulhos da rua e do próprio automóvel atrapalham a apreciação plena da uma melodia.

É dessa maneira que nossa sociedade vem progredindo com os anos (essa progressão é certamente contraditória), enchendo marcas com simbologias maiores que elas, revertendo valores que já não eram tão arraigados, confundindo conceitos, criando ídolos instantâneos de valores éticos/morais duvidosos...

O homem contemporâneo passa pela vida como um completo produto, que tem suas vontades controladas, suas ações estagnadas, sua sensorialidade entupida e sua mente esvaziada. Ele quer ser o que o mundo quer que ele seja.E ele faz tudo pra isso.

2 de março de 2010

Do que estamos falando?

Cuidar das nossas crianças e dos nossos jovens. Todo e qualquer adulto deveria ter isso em mente. Porém, parece que a cada dia as pessoas vêm tornando-se mais imediatistas, despreocupadas com o futuro ou com a teoria da ação e reação, que invariavelmente se aplicará sobre suas decisões presentes.
Uma discussão em pauta atualmente é sobre a redução da maioridade penal. Hoje, um indivíduo de 18 anos que comete um crime, vai para a cadeia. Um de 16, não.
Há de se compreender, porém, que o adolescente também tem uma punição. Ele é encaminhado a instituições para menores infratores. Ele não fica impune. E, se fica (em casos restritos e por vezes súper badalados pela pobre mídia de massa), a falha está no processo judicial, ou seja, nos desdobramentos articulados por advogados e juízes que fazem, muitas vezes, um uso abusivo e mercenário da lei.
Diminuir a maioridade penal para 16 anos não surtirá efeito positivo algum em relação à violência. Se fizermos um comparativo, poderemos notar que há um número bem maior de delitos praticados por adultos do que por adolescentes. E há outro ponto: o que faremos, então, se um garoto de 15 anos cometer um crime? Baixaremos mais ainda a maioridade penal?
Num depoimento absurdo na Revista Época de 1º de março de 2010, a colunista Ruth de Aquino relembrou a decisão bárbara do tribunal inglês, que em 1993 condenou dois garotos de 10 anos à prisão perpétua pela morte de um menino de 2 anos. E a colunista ainda alegou estar falando de "certo e errado (...) falando de justiça".
É realmente assim que queremos tratar nossas crianças e nossos jovens? Eles não têm nenhuma forma de se redimir?
Algumas pessoas defenderão que as instituições são escolas de criminalidade, que os jovens saem de lá em situação pior do que entraram. Então seria melhor jogá-los na cadeia? Não ocorreria o mesmo? Ou pior?
A questão toda é que a mídia insiste em mostrar um infrator, um criminoso, como um ser essencialmente mal, sem nenhuma forma possível de remissão dos pecados. Em alguns casos, realmente existe alguma patologia psicológica, o que torna o indivíduo potencialmente perigoso. Mas eu disse "em alguns casos", não em todos.
O real foco não é o da diminuição da maioridade penal. Temos que lutar e defender o aprimoramento em excelência das instituição voltadas para esse menor, para que ele, no futuro, possa se redimir e voltar à sociedade com toda dignidade, valores reconstruídos, educação, boa auto-estima e um ofício.
Não sejamos impulsivos ao lidar com a vida dos outros. Não sejamos imediatistas.
Estamos falando de certo e errado. Estamos falando de justiça. E bem mais que isso, estamos falando de humanidade.

Sobre nós e nós mesmos

O planeta Terra é a nossa casa. Nada mais clichê.
Acontece que a cada dia cuidamos menos do nosso lar. E, o planeta, como sistema completamente interligado e vivo - o que dirão os mitos sobre Gaia - reclama de todos os maus tratos.
É bem certo que o homem não tem culpa na ocorrência de terremotos (como o do Chile ou do Haiti), já que esses se relacionam com os movimentos convectivos internos do magma terrestre e do choque entre as placas continentais. Porém, em todo o resto temos culpa. Principalmente nas mudanças climáticas, reflexo direto da exacerbada emissão de gases estufa.
O clima e as estações estão cada vez mais adulterados pelo homem: o verão mais quente no Rio em 50 anos, ciclones na Europa, nevascas impressionantes nos EUA, ciclos de chuva intermináveis que provocam alagamentos em São Paulo (inclua-se aí a questão do descarte incorreto do lixo pelos paulistanos) e deslizamento de encostas em Angra dos Reis. O planeta sinaliza loucamente seu descontentamento com a presença humana - e o impacto que essa vem causando - sobre a crosta terrestre. O planeta sinaliza, mas nada é feito.
A água do mar, em regiões próximas à Austrália já teve um acréscimo de temperatura de 1 ou 2 graus. Parece pouco, mas isso provocou a diminuição de colônias de espécies existentes apenas na região, como o dragão-do-mar, parente próximo do cavalo marinho. Além disso, pescadores brasileiros vêm observando o rendimento diário diminuir com o passar do tempo graças às mudanças climáticas. Como se não bastasse, o iceberg que se descolou da Antártida pode trazer maiores problemas climáticos caso derreta e modifique a concentração salina em áreas de formação de correntes marinhas.
Não só de atrapalhar o clima vive o homem. Ele também sabe destruir a natureza de maneira mais invasiva e direta. Seja através de queimadas e destruição de ecossistemas em prol do crescimento da modernidade, seja através do desejo de alegrar outros seres humanos em shows bizarros nos "Sea World"s da vida. Depois reclamam quando um animal selvagem faz aquilo que ele naturalmente sabe fazer: ser selvagem.
O homem está sempre tentando burlar as leis da natureza, subjulgando-a com invenções e suposições, preferindo vê-la como um obstáculo, não como a extensão do seu próprio corpo.
Novamente volto a dizer: o planeta sinaliza, mas nada é feito. Nem quando diversos líderes de Estado reúnem-se para achar uma saída, ela é encontrada. Ocorre que a saída sempre esteve debaixo dos nossos narizes.
Para lidar com a natureza é preciso jogar de acordo com suas regras e entender que tudo é uma rede. Que a mesma força vital que faz uma planta crescer ou uma tartaruga nascer, move a mão que joga um plástico no chão. Ao destruir aquilo que nos cerca e nos dá vida, obviamente nos destruiremos.
Somos todos uma coisa só.
Nós somos o mundo, já dizia Michael Jackson.

26 de fevereiro de 2010

Quanto custa ser feliz?

Se um governo pretende o aumento da arrecadação fiscal, ele não pode ignorar a teoria de Arthur Laffer. “Pai da Economia pelo lado da Oferta”, Laffer se formou em Economia pela Yale University em 1963 e obteve o doutorado em Stanford em 1971. Foi professor da University of Chicago, University of Southern Califórnia e da Pepperdine University.
A “Curva de Laffer”, rascunhada por ele num guardanapo nos anos 70, mostra a relação existente entre as alíquotas do imposto e o total da arrecadação tributária, de modo que nem sempre o aumento da tributação gera um aumento de arrecadação. A proposta é a de que a diminuição de impostos (como estímulo para o trabalho e a produção) poderia conduzir ao aumento da quantidade arrecadada pelo fisco.
Laffer não tem a pretensão de ter inventado o conceito da curva, atribuindo-o a um estudioso muçulmano do século XIV, Ibn Khaldun e, posteriormente, a John Maynard Keynes.
Esse economista apresentou seu estudo ao presidente Ronald Reagan nos anos 80. Reagan aceitou a sugestão e reduziu as alíquotas, vindo a comprovar-se na prática a teoria de Laffer. A diminuição dos impostos provoca uma reação em cadeia, entrando em um círculo vicioso positivo com mais crescimento econômico, empregos, lucros e, por conseqüência, mais arrecadação.
Pela Curva de Laffer, os indivíduos têm um limite a partir do qual não estão dispostos a pagar tributos sobre suas receitas, pois, a partir de um ponto de ruptura de uma taxa de imposto máxima, eles preferem sonegar a contribuir mais ao governo. Os agentes econômicos não querem correr riscos se o retorno não for compensador ou se for integralmente destinado a engordar os cofres públicos, sobre os quais não têm controle.

Os princípios básicos da Curva de Laffer são de que com uma alíquota tributária nula, a receita obviamente é nula e com uma alíquota de 100%, a receita também é nula, pois ninguém iria trabalhar para que o governo se apropriasse de toda a renda.
Desta forma, há um nível de alíquota que maximiza a receita. As representações gráficas da curva parecem colocar esse nível em torno de 50%, mas a taxa ideal poderia ser qualquer percentagem entre 0 e 100. O ponto no qual a curva atinge o seu máximo está sujeito a muita especulação teórica. Ele irá variar de uma economia para outra e depender da elasticidade da oferta de trabalho, entre vários outros fatores. Pode variar com o tempo numa mesma economia e ter a estrutura alterada por decisões políticas.
Um bom exemplo da aplicação desses conceitos ocorreu no estado de S. Paulo. Em 2004 o governo decidiu reduzir a alíquota sobre os combustíveis como forma de combater a sonegação. O ICMS caiu de 25% para 12%. A arrecadação subiu 7%!

O nivelamento adequado das tributações pelo governo tem íntimas ligações com o crescimento econômico nacional no que diz respeito à arrecadação nas empresas e o reflexo positivo que isso pode ter ao premiar as microempresas e aquelas que menos poluem, com taxas de impostos mais baixos. O combate das desigualdades socioeconômicas também está no seio dessa questão, já que os impostos devem ser revertidos em políticas de promoção da qualidade de vida das populações. E, um país com uma taxa tributária tão alta como o Brasil não pode transparecer problemas estruturais tão básicos como má distribuição de energia elétrica, falta de saneamento básico ou precária estrutura viária, por exemplo.