1 de dezembro de 2009

Mamãe, eu quero!

Pela manhã, o telefone toca. É uma criança querendo participar de uma brincadeira e concorrer a prêmios em um programa infantil.
A brincadeira da qual participa não se preza a cumprir a suposta premissa educativa que possui, já que a atenção da criança está, o tempo todo, voltada para os prêmios e quem assopra as respostas é a mãe.
A jovem e "marionética" apresentadora pergunta:
_ De que país é essa bandeira?
A mãe assopra, após procurar a resposta num atlas puido, durante alguns segundos:
_ Dinamarca...
O filho tenta repetir:
_ Dinamaca!
Volta a marionete:
_ Aêêê! Parabéns! Você acertou!
Após falar algo que nem compreende e ser parabenizado por isso, a criança visualiza em seu aparelho televisor a Roleta de Prêmios! É algo como Las Vegas, para os adultos.
A apresentadora pergunta qual é a aposta, ou seja, qual prêmio a criança quer por ter dito algo estranho assoprado pela mãe; que serviria também como recompensa pelo gasto na conta telefônica.
A criança, ressoando o desejo de tantas outras e seguindo o comportamento que a publicidade lhe recomenda, opta pelo óbvio, o desejo do desejo na psicanálise freudiana. Um Playstation.
Mas não qualquer Playstation, ela quer o 2, se possível o 3, pois esse é o mais desejado, é o que "está na moda".
A apresentadora gira a roleta e surpreendentemente a criança não ganha o vídeo-game, mas uma pista de corrida Hot Wheels, um brinquedo muito "educativo e cheio de bons valores".
A apresentadora fantoche tenta animar a criança. "O mundo é assim mesmo, temos que nos acostumar com as perdas de vez em quando. Mas você pode continuar tentando. É só ligar de novo!"
E a criança liga novamente. Liga para "brincar e ganhar presente". Não só ela, como muitas.
E uma hora o programa acaba, uma hora a criança cresce e aprende que não há nada além da insistência e da sorte. Quem sabe pagando um carnê ela não fique rica, quem sabe apostando em 6 números de 60, ou acreditando na borboleta, no gavião, na vaca, na cobra, no galo...
burro.

9 de setembro de 2009

Surrealismo Dalí e daqui

Um professor entra na sala de aula e pergunta "Alguém tem um MAC pra me emprestar?" Mas que MAC seria esse? "Mac" Lanche Feliz? Não, estamos falando de um Macintosh, aquele computador da Apple, sabe?
Então eu lhe pergunto: Onde isso aconteceu? Numa escola primária na Finlândia? Num curso de verão na Califórnia? Numa escola particular de elite em São Paulo? Nem perto disso! Aconteceu numa universidade pública no Rio de Janeiro. Mas que tipo de realidade é essa? Por que nosso sistema de ensino superior é assim?
Deixando as perguntas vagas um pouco de lado, vamos ao que interessa.
"Tudo começa bem antes da vida acadêmica..." Ecoa novamente o discurso cansado! A histórica falta de incentivos na educação básica gratuita já coloca em condições desiguais de competição, bem no início da corrida, crianças pobres e ricas (estas últimas matriculadas nas melhores escolas particulares, onde uma criança de 5 anos é capaz de falar tão bem o inglês quanto uma criança americana). Falo em competição e corrida, pois é o que realmente fazemos na sociedade capitalista atual.
Esse desnível entre as curvas de desenvolvimento das crianças vem agravar-se mais ainda com os cursinhos pré-vestibular. Para quem nunca frequentou um curso desses, trata-se de algo como uma escola de adestramento de jovens, onde eles "aprendem" o que responder nas provas. Quem não tem condições de pagar um cursinho que se vire com o pouco que "sabe" ou reze para que uma alma (ONG) caridosa abra um curso desses, gratuito, na sua cidade.
Quando chega a época do vestibular para uma faculdade federal, basta pagar o equivalente a 1/5 do salário mínimo para fazer a prova. Depois, se for aprovado, que felicidade! A faculdade é integral, não há tempo para trabalhar, todo o sofrido dinheiro que você tem converte-se em fotocópias ilegais, os professores mandam conteúdos por e-mail (o que exige um computador) ou te pedem trabalhos em vídeo. Além do risco de ter que se mudar, caso a universidade seja distante. As federais (não todas), acostumadas com o modelo de aluno que costumam receber, adaptam a sua estrutura para ser o mais excludente possível com quem não se enquadrar. É surreal!
As iniciativas do governo em promover a inserção de jovens em universidades privadas através de bolsas e planos são ações responsáveis por "terceirizar" a educação no país. Isso coloca nas mãos das instituições particulares de ensino a responsabilidade técnica e intelectual do Brasil. Sejamos sensatos: muitas vezes não está em boas mãos. Coisas como UPP (Universidade Pagou Passou) ou FCP (Faculdade do Cheque Pré-datado) vivem surgindo por aí para explorar os sonhos das pessoas. É uma evolução difícil de conter, pois a procura é enorme.
Alguns insistem que o pobre é pobre porque não estuda, mas o inverso faz muito mais sentido ao meu ver. O pobre não estuda porque é pobre. O que acha? Concorda?

19 de junho de 2009

Uma lágrima do presente

No início do mês de março, uma reportagem do Fantástico, da Rede Globo, denunciava o abandono por parte do poder público com certas localidades brasileiras, mais precisamente a região oeste do Acre, cidades como Jordão e Tarauacá.
Durante a reportagem, a equipe levou aos expectadores, sentados em seus macios sofás, a dura realidade dos habitantes dessas cidades. Sem estrutura viária ou qualquer indicio de saneamento, as ruas pareciam ser o resultado de uma guerra civil. As crianças tinham no olhar aquela falta de esperança característica dos olhares desprovidos de atenção, de igualdade, desprovidos da humanidade (no sentido que entendemos do que sejam "condições humanas").
O mais alarmante foi o fato das cidades não terem perspectiva alguma de crescimento. É fácil notar que esperança nem sempre resolve tudo. Em outra localidade, Manari (em Pernambuco), cerca de 86% da população sabe apenas escrever o próprio nome, somente funcionários públicos concursados conseguem ter uma remuneração "decente". A média normal do salário da população é de 1/10 do mínimo estipulado pelo governo, ou seja, por volta de R$ 40 mensais. Grande parte da população de Manari, Jordão e Tarauacá recebe auxílio do governo para sobreviver (Bolsa Família, Bolsa Escola...).
As cidades do Acre em questão, por serem muito afastadas dos centros e a população não possuir uma renda suficientemente adequada, que seja capaz de movimentar o precário comércio, acabam tendo um enorme aumento dos preços dos bens de consumo, mesmo dos bens de primeira necessidade. O preço da gasolina nessa região, por exemplo, compete em pé de igualdade com os padrões europeus.
As pessoas nunca viram um chuchu, algumas nunca tomaram banho de chuveiro, um quilo de tomate pode custar R$ 8, são sete dias de barco até o centro mais próximo de Jordão, essas cidades apresentam os menores IDH brasileiros! População pobre, realidade instável. Mistura complexa.
Uma das famílias entrevistadas chamou muito minha atenção. Uma mulher e as filhas, não lembro bem quantas. O marido havia ido para São Paulo, mas ainda não tinha dado nenhuma notícia ou mandado dinheiro. A mulher preparava feijão com farinha para o almoço, cardápio que se repetiria no jantar. Visivelmente fragilizada e marcada pela realidade escassa, a mulher falou, olhando diretamente para a câmera:
_ O sonho da minha filha era ganhar uma boneca que chora, mas eu não posso dar._ quem chorava agora era ela.
Dizem que o Brasil é o país do futuro. Mas quando esse futuro vai chegar?

14 de março de 2009

Excomungue a tua mãe!

Em dias de loucura, na confusão da modernidade, nem a Igreja, como instituição, consegue salvar-se.
Certamente os brasileiros ainda não tiraram de suas mentes a imagem da barriguinha da menina de nove anos grávida de gêmeos. No começo do mês, chegou à esfera pública o caso de um padastro que abusava sexualmente de sua enteada desde que ela tinha seis anos de idade. Agora, aos nove anos, ela estava grávida e corria risco de vida, dado o seu quadro de subnutrição, como afirmou o médico Rivaldo Mendes de Albuquerque, 51 anos, professor de ciências médicas da Universidade Estadual de Pernambuco. Rivaldo foi um dos médicos que interromperam a gestação da menina. A consequência desse fato: a excomunhão pela Igreja Católica!
Como entender tudo isso? A excomunhão, movida pelo arcebispo de Olinda e Recife (PE) José Cardoso Sobrinho, foi aplicada a todos que participaram da interrupção da gravidez; até mesmo a mãe da menina. O arcebispo defendeu que a lei de Deus está acima de todas as coisas e que o fim não justifica os meios. Ou seja, o que importa se a vida da infante mãe corre perigo?
O que mais gera revolta é o fato da menina ser vítima de um crime contra a integridade e a toda moral, condenável em praticamente todo o mundo, mas ainda assim a interrupção da sua gravidez parecer uma ação errada aos olhos de muitas pessoas.
O problema maior é que o ser humano ainda não aprendeu uma antiga prática que funciona muito bem para analisar diferentes situações. A prática do "ponha-se no meu lugar"! É bem fácil, é só imaginar a menina de nove anos como a sua filha, ou como a sua irmã.
A Igreja Católica ainda mantém uma filosofia quase medieval que mascara os seus interesses e leva seus fiéis a um grau cada vez maior de alienação. Mas isso não é privilégio dos católicos. Às vezes me pergunto se as pessoas têm procurado Deus no lugar correto.
José Cardoso Sobrinho, o arcebispo do adora excomungar pessoas pra passar o tempo, ainda chegou a comparar o aborto, (atentem-se!!!) mesmo em casos de abuso sexual, com o Holocausto!
Senhor arcebispo, ponha-se no lugar daquela família e veja a menininha como sua irmã. Então, excomungue a tua mãe! Tente. E cuidado com as comparações, o Holocausto é um fato histórico muito sério. Acredita que tem uns e outros por aí que ainda dizem que ele não existiu?

15 de fevereiro de 2009

Todos na mesma viagem


Tomar um ônibus, pegar a condução, ir de busão, tudo a mesma coisa, e milhões de pessoas se deslocam diariamente através desse meio de transporte. Porém, as irregularidades nesse sistema são constantes e se aplicam a diversas regiões brasileiras.
Não faz muito tempo, num dia de chuva, eu esperava meu ônibus no ponto. Hora do rush! A inexpressividade da frota que faz a linha do meu bairro, me fez esperar por mais de vinte minutos no ponto. Isso, na hora do rush é inconcebível, afinal, as pessoas querem ir pra casa após um longo dia de trabalho.
O ônibus veio. Lotado, é óbvio. A passagem? Cara. Dois reais por apenas quinze minutos de viagem. Se compararmos isso com os preços e o trajeto feito pelos ônibus dos grandes centros, como o Rio de Janeiro, podemos deixar até correr uma lágrima pelo rosto ao entregar aquela esfolada cédula azul da tartaruga marinha.
As poltronas... bem... não sei se eram macias, pois fiquei o trajeto todo de pé. De um pé, digamos. Era tão apertado o espaço que dispunha pra mim que tinha que me equilibrar sobre uma das pernas, segurar na haste superior de metal que estava completamente empoeirada, aguentar um sovaco no meu ombro e espantar um pernilongo com assopros.
Pessoas amontoavam-se antes e depois da roleta (catraca, borboleta, como quiser). Pessoas escoravam-se nas portas do ônibus. E, por mais impressionante que possa parecer, o motorista continuava a parar nos pontos quando algum pedestre fazia um sinal. Talvez ele fizesse isso pelo simples prazer em ver a indignação de quem, logicamente, não conseguia embarcar.
O aroma de suor, calça jeans molhada e chulé de criança saída da escola completavam o clima do agradável ambiente.
Dizem que os idosos acima de 65 anos e crianças até a quarta série têm passagem gratuita, porém já pararam pra pensar o porquê da nossa passagem ser tão cara? Pois é, existe uma coisa que eu gosto de chamar de "pagar o pato". Ônibus lotado pra garantir a despeza com todos os velhinhos e crianças melequentas.
Gente não é carga. Ônibus não é lata de sardinha. Dinheiro não é capim. A situação é revoltante, mas continuo preferindo um ônibus lotado a um carro com um só passageiro.

30 de janeiro de 2009

Mas será o Kingdom Hospital?

Há um tempinho fui a um hospital da minha cidade. Um hospital que atende pelo Sistema Único de Saúde (o famigerado SUS). Acontece que este hospital é assombrado! Sim, garanto isso através de fatos.
É muito curioso o fato de que você não consegue nenhuma informação satisfatória das atendentes. Eu me arriscaria até a dizer que elas são zumbis. E são zumbis que mal se entendem, porque ficam te lançando de sala em sala, balcão em balcão para falar a mesma coisa, ou melhor, para não falar a mesma coisa, porque elas não falam nada que preste.
É interessante observar também como este hospital, que é um espaço público,recebe bem o público, ou seja, a população, que é a verdadeira "dona" do lugar. Tente falar com o diretor. Tente falar com qualquer um de um cargo mais alto. É impossivel. Creio que estes chefões sejam vampiros e não possam sair à luz do sol, pois morreriam. Vampiros como são, sugam o sangue das bolsas de transfusão. E é por isso que estão sempre precisando de sangue, mesmo que não façam nada com esse sangue.
Mas o que mais impressiona não são as secretárias zumbis e muito menos os diretores vampiros. O que mais impressiona é a doutora fantasma!
A doutora fantasma é assustadora! Vai num balcão e pergunta: Cadê a doutora? A zumbi responde: Tá ali. Você vai até o outro setor e pergunta: Cadê a doutora? Outra zumbi responde: Tá lá. E fica nisso!
Daí, quando você encontra a zumbi que parece um pouco menos afetada pelo virus, ela procura em todo o hospital e depois diz: A doutora não está aqui! Ela não veio. Você, assustado com o fantasmagórico hospital, vai embora. Porém, por desencargo de consciência, antes de sair, você pergunta para um último zumbizinho que zumbizava por ali: Cadê a doutora? E ele fala: Ela passou por aqui agora pouco!
Cruz-credo, morro de medo de assombração!
Fala sério, Stephen King morreria de inveja de mim, se soubesse dessa história. Kingdom Hospital pra mim é fichinha!

Clima ruim: Descaso com a população. Saúde é coisa séria e um dia todo mundo vai morrer. Acredito na justiça e mais ainda na divina. Um dia todos esses monstros vão pagar. Ah vão!